A SEMENTE ALEATÓRIA

 

Segundo um artigo publicado hoje no jornal Público, a revista Nature divulgou os resultados da experiência Boomerang que, através de balões sonda lançados do pólo Sul para lá do nível de interferências, analisou a radiação de fundo do Universo, definindo com maior rigor os resultados alcançados pela Cobe. Na opinião de Paolo de Bernardis, a análise dos dados colhidos pela Boomerang confirma a não uniformidade da radiação de fundo, que se constitui antes como uma matriz enrugada e que se delineia segundo a dispersão cósmica.

A experiência parece ainda confirmar a teoria do Universo plano - teoria segundo a qual, e nas palavras de Pedro Ferreira, o Universo plano "fica na fronteira entre expandir-se desenfreadamente para sempre e o colapso". Se tiver matéria para lá de um certo limite, colapsará sobre si próprio, devido à força de gravidade exercida. Não será o caso, nos cálculos da equipa sobre a quantidade total de matéria e energia do Universo (Público, 20000427).

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Estes resultados estão, afinal, relativamente de acordo com as previsões da Teoria de Fermanl para o Big Bang. Segundo Fermanl, a explosão inicial que deu origem ao nosso Universo evoluiu não de uma maneira uniforme mas de modo aleatório, o que explica a diversidade da dispersão cósmica actual (1).

Quando pensamos numa explosão tal como, por exemplo, a detonação de uma bomba, imaginamos que a energia se expande uniformemente em todas as direcções, seguindo os raios da esfera cujo centro é o ponto de detonação. Se aplicarmos este mesmo raciocínio ao Big Bang, interrogamo-nos, muito legitimamente, acerca da razão porque é que então foi possível surgir diversidade dessa uniformidade - questão que, como muitas outras, remoeu inconfessadamente as mentes de muitos astrofísicos durante muitos anos.

Os desenvolvimentos da Teoria do Caos criaram um campo propício à análise deste tipo de acontecimentos; e, no ano 2000, Fermanl avançou a Teoria da Semente Aleatória para o Big Bang. Segundo Fermanl, o tipo de acontecimento físico que precipita a rotura das coordenadas coerentes - a singularidade - não evolui uniformemente; no foco de uma transformação energia-massa a coerência evolutiva não resulta de um equilíbrio de coordenadas exteriormente mensuráveis, mas sim da dinâmica intrínseca aos fenómenos circunscritos pelo horizonte de acontecimentos da singularidade. Fermanl afirma que a semente funcional para essa dinâmica de pós-rotura com a realidade física tal como a podemos conceber só pode ser aleatória, por ser essa a única solução que resolve satisfatoriamente o problema sem devolver a singularidade ao campo físico do nosso universo - princípio epistemológico de diversidade (2).

A Semente Aleatória introduz, evidentemente, diversidade na estruturação do espaço-tempo e na distribuição do fluxo da nucleossíntese primordial posterior ao Big Bang. Digamos que a densidade de quarks formados ao longo de (in)determinados eixos de dispersão é maior ou menor, aleatoriamente; e só a partir daí surge o equilíbrio gravitacional do espaço-tempo tal como o experienciamos "actualmente".

O modelo de Fermanl explica ainda porque é que o Universo tende necessariamente para um equilíbrio complanar: imediatamente após o Big Bang a dispersão energética, conquanto assimétrica, deverá ter sido omnidireccional, ou seja, esférica; mas o desequilíbrio induzido pela semente aleatória gerou imediatamente um momento universal de rotação que, à semelhança do que conhecemos da história do nosso planeta e das galáxias em geral, provocou um achatamento polar devido à força centrífuga.

A imagem de Pedro Ferreira para o equilíbrio centrífugo-centrípeto não explica no entanto o fenómeno da expansão em si. A formação de nova matéria no Universo deriva das densidades energéticas negativas geradas pelo afastamento das galáxias; mas este índice nunca poderá atingir o ponto de crunch porque é uma função directa do equilíbrio atrás descrito (só se forma a matéria necessária para colmatar o desequilíbrio gerado pela dispersão - enquanto a expansão continua, godelliana, infinita).

Por outro lado, Fermanl aprofundou a teoria da relatividade de Einstein no que concerne ao modo de expansão do Universo e, detendo-se sobre as considerações do pai da relatividade acerca da curvatura do espaço chegou à conclusão de que a imagem do Universo tal como a apercebemos do nosso ponto de vista tridimensional é uma ilusão de óptica gerada pelo nosso envolvimento na dinâmica dessa expansão (conclusão partilhada por diversas teorias para universos multidimensionais, ainda que por razões físico-matemáticas diferentes). Fermanl partiu de um raciocínio simples: se é um facto que a dinâmica de condensação envolve um efeito hipercâmpico túnel, então este efeito surgiu logo no primeiro instante do Big Bang. Numa imagem acessível, digamos que no primeiro instante do Universo existe um centro de expansão (+-|origem do cone de luz); no segundo instante existem dois centros de expansão que se podem situar em qualquer ponto do plano transversal ao cone de luz nesse ponto e tensionam a evolução subsequente do espaço-tempo; no terceiro instante existem quatro centros de expansão; e assim sucessivamente (Dispersão de Fermanl). Concluímos deste modo que o centro de expansão actual do Universo é qualquer ponto do espaço-tempo e que cada etapa desta expansão é o desenvolvimento coerente de coordenadas originalmente aleatórias! É evidente que não nos apercebemos do facto porque toda a nossa estrutura material se encontra (felizmente!) envolvida no processo.

É sem dúvida interessante comparar esta tese com as posições defendidas por Weinberg e Linde, nomeadamente no que concerne o estudo dos campos escalares e a teoria do universo auto-similar; a dispersão de Fermanl constituiria assim uma dimensão escalar que reduziria o pacote dimensional, gerando deste modo um efeito macro semelhante à redução do pacote de ondas quântico inerente aos estados particulares analisados pela equação de Schrödinger. Por outro lado, a teoria auto-similar de Linde apresentava o inconveniente de implicar um raciocínio linear para a explicação do efeito em árvore de ramificação de universos através de "little bangs" sucessivos, o que, constituindo muito embora um envolvimento antropomórfico elegante e agradável, colide com a possibilidade de uma compreensão física global do espaço-tempo. Sendo "interior" à dimensão escalar, a dispersão de Fermanl ratifica o critério de simultaneidade subjacente à teoria da relatividade, tanto geral como restrita, para o espaço-tempo, captando deste modo o melhor de ambas as perspectivas para a explicação da evolução do Universo.

Quer isto dizer que regressamos ao problema acerca do que é que deu início ao Big Bang? Também não. O conceito de singularidade, introduzido por Hawking para a designação dos focos de incoerência detectáveis na tessitura estrutural físico-matemática e generalizado pela investigação dos buracos negros, abarca muito mais fenómenos físicos e astrofísicos; o próprio Big Bang é uma singularidade, a primeira - no quadro do modelo "mainstream" para a física actual. Mas, para Fermanl, as singularidades não são acontecimentos físicos locais no sentido da física ortodoxa - são acontecimentos hipercâmpicos.

(1) e (2) -    O desenvolvimento da Física Hipercâmpica produz actualmente uma visão ainda mais nítida desta circunstância. Segundo Fermanl, o bigbang poderá produzir-se não na inexistência mas directamente sobre o Aleph 2, essa brana de realidade que engloba e é interior ao nosso multiverso. “Não sabemos qual é a realidade a-física do Aleph 2; mas é muitíssimo improvável que a sua estrutura seja uniforme; e esta conjectura, corroborada pelo carácter não-uniforme do nosso Universo e da radiação de fundo, explica por si só a diversidade inicial”.  No ano em que este artigo foi escrito (2000) Fermanl não desenvolvera ainda um aspecto que se viria a tornar fundamental na sua Astrofísica: o big bang, sendo omnidireccional e hipercâmpico, é também introverso - e esta introversão é complanar ao tensor de fluxo da metadimensão.

 

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